A diversidade de género não é apenas uma questão de justiça social, é um diferencial competitivo.
A Aviação Civil é um setor vital para o desenvolvimento económico e social de Cabo Verde, com um papel crucial na conectividade e na promoção do turismo. Contudo, quando analisamos o rácio de género, constatamos uma realidade desafiante.
De acordo com o relatório “Mulheres e Homens em Cabo Verde: Factos e Números” de 2024, do Instituto Nacional de Estatística, as mulheres representam 49,7% da população cabo-verdiana — ou seja, quase metade dos 509.078 habitantes. Apesar desta presença feminina na sociedade, a sua inclusão nas áreas técnicas em setores estratégicos, como a aviação civil, em termos de representatividade, ainda demonstra uma enorme desigualdade.
Cabo Verde conta com uma companhia aérea nacional responsável pelas ligações internacionais como domésticas. No entanto, apenas 32% dos colaboradores da empresa são mulheres. E quando aprofundamos o olhar nas áreas operacionais, o cenário é ainda mais desigual: Cabin Crew: 12%; Vendas e Assistência em Escala: 7,2%; Engenharia: apenas 2,4%
Diante desses números, surge a pergunta inevitável: porquê?
Porquê que as mulheres continuam sub-representadas em funções técnicas e operacionais? Será que a sociedade direciona as mulheres para cargos de gestão ou atendimento, deixando de incentivá-las a explorar áreas como engenharia e tecnologia?
A aviação civil, assim como o setor tecnológico, ainda carrega traços de um ambiente sociocultural e historicamente masculino. Fatores como estereótipos de género, escassez de oportunidades, falta de representatividade e a ideia ultrapassada de que funções técnicas “são coisas de homem” continuam a limitar o potencial feminino.
Um estudo da McKinsey (2020) mostrou que empresas com maior diversidade apresentam melhor desempenho operacional e maior rentabilidade. E, organizações lideradas por mulheres tendem a promover ambientes mais colaborativos, inovadores e com maior retenção de talentos.
Ciente desse cenário, a companhia aérea está a dar um passo importante rumo à transformação, implementando medidas concretas para promover a inclusão das mulheres. Entre estas iniciativas destaca-se o lançamento de um bootcamp focado no desenvolvimento de soluções digitais, com especial atenção à atração e capacitação de mulheres.
Esta iniciativa visa desenvolver soluções tecnológicas para a companhia, combinando teoria e prática, em colaboração com atores do ecossistema digital, e foco na incorporação de Inteligência Artificial para melhorar a experiência dos clientes e a eficiência dos serviços.
Mais do que uma ação pontual, este bootcamp representa um convite para repensar o papel da mulher na aviação e nas tecnologias. É um espaço para crescer, inovar e — principalmente — ocupar o lugar que também é das Mulheres por direito próprio.
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Biografia de Nádia Teixeira
Nádia Teixeira, esposa, mãe e empreendedora, é Mestre em Gestão de Empresas, com especialização em Finanças, pela CATÓLICA-LISBON, School of Business and Economics. Licenciada em Gestão e Administração de Empresas, pela mesma instituição, durante o seu percurso académico, enriqueceu a sua formação com o Programa de Erasmus, na St. Gallen University, na Suíça.
No âmbito profissional, com sólido conhecimento e experiência no sector privado, nacional e internacional, como banca, mercados de capital, consultoria e auditoria, mas também no sector público cabo-verdiano, Nádia Teixeira é actualmente Administradora Executiva dos Transportes Aéreos de Cabo Verde, desde Junho de 2024.
Ao longo do seu percurso profissional, no sector público, exerceu funções na Unidade de Acompanhamento do Sector Empresarial do Estado (UASE), do Ministério das Finanças de Cabo Verde, como Gestora de Carteira de Empresas, nomeadamente, ASA, ENAPOR, EMPROFAC, TICV, TACV e CAIXA. Ainda, desempenhou importantes cargos de liderança como Vogal da Comissão de Acompanhamento de Serviço Público de Transporte Marítimo Interilhas (2023) e de Presidente do Conselho Fiscal da Rádio Televisão Cabo-verdiana (2024), bem como participado em projectos de reestruturação do Sector Público Empresarial, alienação de acções, privatização, PPP e concessões, como de transformação digital com a implementação do SOE MANAGER, com apoio do Banco Mundial
No setor privado, iniciou a sua trajetória profissional como analista de negócios na Microsoft, Portugal, tendo de seguida, entre 2013 e 2015, exercido funções como Auditora Financeira na Deloitte & Associados, em Portugal, Angola e Cabo Verde, no segmento das Indústrias de Tecnologia, Média e Telecomunicações, tendo auditado grandes empresas como CV Telecom, Angola Telecom e PT Telecom. Em Cabo Verde, iniciou o seu percurso profissional no setor bancário como Técnica Sénior de Mercados Financeiros e de seguida como Chefe de Departamento de Mercados Financeiros no Banco BAI Cabo Verde.
Com uma sólida formação e uma carreira marcada por conquistas, Nádia Teixeira destaca-se como uma referência promissora ao serviço de Cabo Verde e do Mundo.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1223 de 07 de Maio de 2025.